domingo, 5 de fevereiro de 2012

O pragmatismo das favoritas e o futebol vistoso do Gabão

Aubameyang, dos grandes destaques da CAN 2012.

Apesar de não ter um nível técnico espetacular, esta edição da CAN está nos deixando detalhes interessantes. Já falei sobre o vexame de Senegal e dei mais detalhes da histórica e interessante Guiné Equatorial, agora vou falar da verdadeira tendência da Copa África: o pragmatismo das favoritas e o belíssimo futebol jogado por uma das sedes, o Gabão.

A aposta marfinense por sua defesa

Quando se questiona "qual a melhor seleção africana na atualidade" geralmente surgem duas respostas: uma delas é Gana, avaliando os resultados recentes e seu conjunto; a outra é Costa do Marfim, levando em conta a qualidade individual de seus jogadores. E isso é um fato. Analisando todo o elenco da Costa do Marfim, veremos que é o mais completo e "galático" de toda a África.

Mas bem sabemos que dentro de campo as coisas não são bem assim. A pressão sobre a seleção é tanta que dizem que é a última chance desta brilhante geração conquistar alguma coisa. François Zahoui está levando estes comentários bem a sério e montou um esquema acima de tudo muito seguro. A Costa do Marfim ainda não deu show na CAN -e é provável que nem o fará- mas venceu todas as suas partidas até aqui com certa tranquilidade. Além disso, marcou 8 gols e não sofreu nenhum.

Para que todo este potencial defensivo fosse explorado, Zahou nem precisou inventar muito. Ele simplesmente armou a Costa do Marfim em um 4-2-3-1. Tendo Zokora e Tioté (ou Coulibaly) no doble pivote e Yaya Tourè mais adiantado, não foi difícil manter a posse de bola e reforçar a marcação pelo centro do campo nas partidas.

A melhor dupla de zagueiros da CAN até o momento é, sem dúvida, Sol Bamba e Kolo Touré. Os jogadores de Leicester e Manchester City mostraram um entrosamento fantástico e provaram que se completam à frente do irregular goleiro Barry (que nem precisou trabalhar muito, para a sorte dos marfinenses).

Sem aquela construção de jogadas espetacular e um toque de bola encantador, as jogadas em velocidade pelos flancos se tornaram o ponto forte marfinense. Com Didier Drogba na frente e Gervinho-Kalou pelos lados, invertendo constantemente seu posicionamento, a marcação adversária sofreu horrores. Vale destacar que nas últimas partidas Max Gradel entrou bem e contra Guiné Equatorial ganhou a posição de Kalou.

A paciência de Gana

Aquela que -como já foi mencionado- é a melhor seleção africana em termos de conjunto, veio para esta CAN com uma proposta de renovação, trazendo alguns jovens e interessantes nomes. Mas esta renovação foi apenas nos atletas, já que a filosofia do treinador sérvio Goran Stevanovic permaneceu a mesma.

Gana se classificou para as quartas-de-final também sem apresentar um bom futebol, contando por vezes com jogadas individuais de André Ayew para decidir as partidas. Sua defesa não foi tão brilhante quando a de Costa do Marfim, mas sofreu apenas 2 gols até o momento.

Outra diferença entre Costa do Marfim e Gana é que a primeira seleção geralmente mantém o controle da partida, "gastando" a posse de bola após conseguir sua vantagem. Gana, por outro lado, mostra certa oscilação durante os jogos e, não fosse a sensacional dupla de volantes que conta com Badu e Annan, sofreria bem mais do que de costume.

Além deste doble pivote nenhum outro jogador vem se destacando em Gana, tanto que Goran Stevanovic já precisou mexer algumas vezes. Sim, André Ayew decidiu algumas partidas e foi o que melhor jogou até o momento, mas não atuou brilhantemente. Seu irmão, Jordan, começou como titular e agora fica no banco sendo utilizado no decorrer das partidas. Kwadwo Asamoah fez a trajetória inversa e, depois da ridícula atuação de Muntari como trequartista, tornou-se titular absoluto no centro da linha de 3 meias.

Quem incrivelmente não vem rendendo bem nesta seleção é Asamoah Gyan. O já famoso "atacante da camisa 3" não deixa de se esforçar em campo, mas não repete o bom futebol que estamos acostumados a ver. O experiente zagueiro John Mensah ainda não conseguiu terminar uma partida. Foi expulso na estreia contra Botswana e saiu lesionado na vitória por 2x1 sobre a Tunísia.

Justamente esta vitória nas quartas mostrou o poder da seleção ganesa. Ainda que não estivesse jogando nada bem, conseguiu vencer a boa seleção tunisiana -na prorrogação- graças à uma falha bizarra do goleiro Mathlouthi, que soltou a bola nos pés de André Ayew.

A empolgante seleção do Gabão já ficou para trás

De todas as seleções da CAN o Gabão não ficou apenas com o título de "surpresa", mas também nos encantou com seu belo futebol. Conseguiu passar na primeira colocação de um grupo que tinha Tunísia, Marrocos e Níger. Venceu as três pelejas, marcando seis gols (sendo 3 deles de Pierre Aubameyang).

Assim como as duas seleções mencionas acima, o Gabão não fugiu à "regra" e foi a campo sempre em um 4-2-3-1, mas o que chamou a atenção foi a velocidade, técnica e até qualidade dos jogadores comandados por Gernot Rohr. Tudo bem que a torcida -incluindo o ilustre presidente Ali Bongo e sua esposa Sylvia- ajudou a empurrar esta seleção, mas seu méritos são notáveis.

A defesa não é espetacular, isso é evidente. Até porque os dois laterais -Mouele e Moussono- apoiam constantemente. Nisso, quem precisa voltar para compor é Biyogo Poko, um dos melhores volantes da competição até o momento. A seu lado quem começou jogando foi Clement Madinda, mas Cédric Moubamba tomou conta da posição. Em suma, qualquer um dos dois sai mais para o jogo.

Como o ídolo Daniel Cousin não começou como titular nas duas primeiras partidas, Rohr precisou fazer certas modificações no time. Estas o tornaram ainda mais interessante. Tendo Cousin como "9", ele recuou Aubameyang para a linha de 3 meias e deixou Eric Mouloungui e Madinda (que foi adiantado) abertos pelos lados.

Mas nem tudo isso foi suficiente para que os gaboneses pudessem chegar à semifinal. Eles acabaram perdendo para Mali, por 5x4, nos pênaltis. O mais curioso disso tudo é que, ao contrário do Gabão, Mali ainda não convenceu nem um pouco na competição. Só jogou bem no segundo tempo contra Botswana.



2 comentários:

  1. Novamente um baita texto seu sobre a CAN2012. Resume bem o que foi a competição até aqui. Abraços

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  2. Muitíssimo obrigado, Lucas! Grande abraço!

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