domingo, 12 de fevereiro de 2012

Zâmbia, a grande campeã

Inesquecível.

O normal seria eu chegar aqui e ressaltar todos os méritos da seleção de Zâmbia na competição. Ainda farei isso. Mas antes, preciso destacar toda a emoção envolta na partida. A primeira coisa que consegui falar -e twittar- depois do título foi: "Estou emocionado demais. Título incrível de Zâmbia. Eu nunca vou esquecer esta transmissão pela rádio 'Futebol Plus'".

Zâmbia pisou em Libreville pela primeira vez desde 1993, quando boa parte de sua deleção morreu em um trágico -e famoso- acidente aéreo quando rumava a Senegal. Não se falou em outro assunto durante a semana. Inclusive os jogadores do atual plantel foram até a praia para prestar homenagens aos falecidos. Inúmeras faixas lembrando a tragédia foram levadas ao estádio por torcedores. Clima mais emocionante impossível.

Do outro lado estava a Costa do Marfim, que também entrou em campo para protagonizar sua terceira final de CAN. Seguramente a seleção mais sólida da competição e a favorita ao título. Até então, não havia sofrido sequer um gol em todos os jogos. Poucos (leia-se quase ninguém) poderia imaginar que Zâmbia levaria este caneco. Ainda mais por toda a pressão sobre a Costa do Marfim. A frase desta CAN foi a seguinte: "Esta é a última chance de a atual geração marfinense provar seu valor". Clichê mesmo, mas foi assim.

Nesta CAN vimos uma Costa do Marfim diferente. François Zahoui assumiu e logo mudou o que todos os seus antecessores fizeram questão de preservar: a ofensividade. Parece que ele foi o único a ver que primeiro a seleção marfinense precisava se portar melhor sem a bola, preenchendo os espaços e fazendo uma marcação forte. Como mencionado nos posts anteriores, esta tática deu certo. Os marfinenses não sofreram nenhum gol na competição e, em todas as partidas buscaram jogar no erro dos adversários, com muita paciência. Não perdeu nem por um minuto o controle em seus jogos. Abria o placar e seguia com a posse de bola quando dava, ou optava pelos contra-ataques com Gervinho e Kalou (ou Gradel) pelas pontas. Pouquíssimas eram as variações.

Merecida homenagem a Hervé Renard.
Costa do Marfim buscou jogar no erro dos adversários. Esta frase que acabei de utilizar se tornou antagônica. Muitos podem estar achando que estou maluco, mas não. Zâmbia cometeu pouquíssimos erros nesta final. Aliás, sua postura tática até o último minuto da prorrogação espantou a todos. Provavelmente o mais espantado foi François Zahoui. Tudo bem que no primeiro tempo a Costa do Marfim foi melhor (apesar de finalizar com extrema falta de qualidade), mas os Chipolopolo não deixaram de ameaçar em contragolpes ou cobranças de escanteio. Seu principal problema nos primeiros 45' foi não encontrar Mayuka em condições dentro da área. Além disso, a saída aos prantos de Musonda -melhor lateral da competição- também abriu certos espaços para os marfinenses.

É fato que a partir do segundo tempo o jogo ganhou em termos de emoção e perdeu em nível técnico, mas a Zâmbia seguiu bastante organizada. Na maior parte do tempo permaneceu em seu 4-4-2, com Christopher Katongo e Mayuka na frente. Mas quando foi preciso passou a jogar em um 4-2-3-1, mantendo Sinkala e Chansa à frente da área e uma interessante linha de 3 meias com Chris Katongo, Kalaba e Lungu. Nisso, a Costa do Marfim seguiu desperdiçando muitas chances. A principal delas foi com Didier Drogba, que perdeu um pênalti. Sem conseguir jogar pelos lados e com uma dificuldade enorme em tocar a bola, les éléphants se mostraram completamente perdidos na partida. A prorrogação e a disputa de pênaltis foram inevitáveis.

A vitória da Zâmbia por 8x7, já nas cobranças alternadas é que não estava nos planos. Ironia maior seria se Drogba fizesse a cobrança decisiva, mas não foi assim. Quem perdeu a penalidade foi Gervinho. Depois dele, Kalaba só precisou cobrar com precisão e correr para o abraço. Sim, foi triste ver os jogadores marfinenses chorando depois de tanto esforço nesta CAN. Mas foi ainda mais emocionante ver a comemoração dos jogadores de Zâmbia.

Reparem que ainda não falei de Hervé Renard. Nem sequer o mencionei. Foi de propósito. Para mim ele foi um dos grandes responsáveis por este inédito título. Na última CAN já havia feito um trabalho relativamente bom. Em 2012 foi irrepreensível. O treinador francês conseguiu fazer sua seleção ser perfeita no momento mais importante da competição. A defesa não foi mais o ponto fraco. Depois do título, ele carregou em seus braços o lesionado Musonga e foi ovacionado por todos os jogadores. Escreveu seu nome na história do futebol de Zâmbia.

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