sábado, 5 de janeiro de 2013

É possível falar de alto nível na SFL3?

Charles Green e Ally McCoist.

Recontar toda a história de como o Rangers afundou, foi liquidado e precisou renascer na quarta divisão escocesa já não é mais necessário. Todos conhecem muito bem o drama pelo qual os protestantes passaram e do qual ainda tentam se recuperar. Isso envolve desde as dívidas até o embargo de transferências, passando também pela picuinha de Charles Green com Neil Doncaster, executivo-chefe da SPL. Mas isso tudo merece um (outro) post à parte. Neste, o assunto abordado envolverá somente as quatro linhas.

Hoje o Rangers é líder da SFL3 com 45 pontos, 15 a mais que o segundo colocado Peterhead. O time de McCoist marcou 51 gols e sofreu 14, isso em 18 jogos. Sua única derrota aconteceu frente ao Stirling Albion, ainda no primeiro turno da temporada, por 1x0 justamente quando Greig McDonald, técnico do Albion, não estava presente em decorrência de seu casamento. A verdade é que os Gers demoraram a embalar na temporada. Nas dez primeiras rodadas chegou a cogitar-se uma demissão de Ally McCoist.

Felizmente não passaram de boatos infundamentados. Tais números seriam seguramente muito valorizados se o Rangers não estivesse na última divisão da SFL. Este raciocínio faz sentido, mas será que é completamente justo? Antes de a temporada começar qualquer um diria que sim. E ainda mais "que o Rangers teria a obrigação de atropelar todos os seus adversários". Para saber se isso era só conversa de torcedor magoado ou mesmo uma previsão, devemos analisar o elenco.

Basicamente os Hoops perderam quase todos os seus jogadores em relação a temporada passada, como esperado. No entanto, os que ficaram provaram fazer total diferença. Neil Alexander mostrou que, mesmo sendo reserva de McGregor por tanto tempo, continua em forma. Lee Wallace, que chegou ao time em 2011 e depois da tragédia resolveu ficar, é considerado um dos melhores laterais da Escócia. E o que dizer de Lee McCulloch? Nesta temporada ele jogou em praticamente todas as posições (exceto a de goleiro) e encantou todos os torcedores.

Se estes três nomes já convertiam o Rangers em um time de SPL, a certeza será ainda maior quando falarmos das contratações que deram certo. Ian Black saiu do Hearts como um dos melhores centre midfielders da última SPL e só não manteve o nível nos Gers por causa das lesões. Dean Shiels deixou o Kilmarnock, onde era treinado por seu pai, e se juntou a McCoist. Ele pode aparecer menos que outros jogadores, mas é muito útil no esquema do time. David Templeton fez o mesmo caminho que seu companheiro Black, deixando Edimburgo e rumando a Glasgow. Se na SPL 2011-2012 ele foi a revelação da temporada, nesta edição da SFL3 ele é o melhor atleta da divisão. Alguns podem argumentar que uma lesão o tirou de campo por 2 meses. Sim, isso é verdade. Mas seu protagonismo e capacidade de decisão dentro do time são tão grandes que sua volta foi triunfal.

Os veteranos e recém-chegados merecem grande destaque, mas ninguém deixou a torcida tão empolgada quanto os garotos. Estes finalmente foram lançados por Ally e jogaram demais. A defesa do Rangers é, sem dúvida, o setor mais fraco do time, ainda assim Ross Perry (22 anos) passou muita segurança. No centro do campo, Lewis MacLeod (18 anos) se mostrou um substituto (quase) à altura de Steven Davis e é especulado na seleção. Andy Little (23 anos) está nos Hoops desde 2007, mas só agora conseguiu uma boa sequência de jogos e se tornou o dono do flanco direito no 4-2-3-1 de McCoist. Quem aparece pela esquerda é ninguém menos que Barrie McKay (17), jogador veloz e abusado, que para muitos tem potencial para marcar uma era dentro do clube. E pensar que todos estes jogadores teriam bem menos espaço se o Rangers ainda disputasse a SPL.

Realmente há uma grande diferença entre a SPL e a SFL3. Contudo, mesmo desfrutando de um elenco de elite (melhor do que de muitos times que estão na primeira divisão) os Gers encontraram dificuldades no começo da temporada e viram que as coisas não seriam tão fáceis quanto pareciam. Enfrentar rivais retrancados e com a possibilidade de sofrer contra-ataques contando com uma defesa pouco segura obriga o time protestante a manter a posse de bola. O segundo passo é tocar com muita calma e precisão. Quando nem isso adianta entram em cena jogadores como Little, Templeton, McKay e até o lateral Lee Wallace que, por intermédio de fantásticas jogadas individuais, conseguem furar o intenso bloqueio adversário.

Falar de "alto nível" para o Rangers na divisão que se encontra é possível sim. Mas é necessário tomar um certo cuidado para isso. Este cuidado é meramente conceitual, ou seja, o conceito da expressão "alto nível" deve englobar a atual situação do Rangers. Explicando melhor, devemos levar em consideração seus adversários e suas limitações. Isto tudo pode parecer óbvio mas não é. A verdade é que está acontecendo uma confusão em avaliar os Rangers pelos "padrões SPL".

Pela forma como o time foi parar na SFL3 é até natural tal comparação. O que deixa de ser natural é o exagero em fazê-la usualmente, ressaltando mais os defeitos que as qualidades no trabalho de McCoist. Às vezes parece que uma vitória esmagadora não significa nada, mas uma vitória apertada ou um empate já denota crise iminente. É impressionante como os rivais de divisão são desmerecidos. Sabe por que o Rangers não perdia nunca para times da quarta divisão? Porque não jogava  frequentemente contra eles. O mesmo vale para Celtic, Hibernian, Hearts ou qualquer outro. É preciso valorizar o desempenho de McCoist, dos jogadores e não desmerecer tanto assim os rivais. 

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