sábado, 16 de junho de 2012

Primeiro a decepção, agora vem a escolha de um bode expiatório

Não precisa de legenda. A imagem já fala por si.

Não sejamos hipócritas. A seleção russa, em termos de nomes, era seguramente a mais forte do grupo A da Euro 2012. Tinha a obrigação de passar. No entanto, jogou bem na estreia quando goleou a República Tcheca, teve uma atuação regular contra a Polônia e foi ridícula na derrota frente a Grécia. Surpresa? No futebol apresentado não, mas nos resultados sim. 

A verdade é que a Rússia começou bem a Euro. Ninguém esperava uma goleada (4x1) sobre a República Tcheca ainda mais com dois gols de Alan Dzgoev. O jogador que estreou aos 18 anos pela seleção principal chegou a ser comparado ao mito Eduard Streltsov (que estreou com 17 e marcou um hat-trick contra a Suécia), mas nunca "estourou" como imaginado. Ele até fez uma temporada mediana pelo CSKA, por isso seu rendimento logo na estreia chamou tanto a atenção. Como se não bastasse isso, fez uma excelente partida atuando aberto pela direita, onde não costuma jogar bem (apesar de ser escalado aí constantemente por Leonid Slutsky).

Mas Dzagoev a parte, a Rússia me convenceu (logicamente nas duas partidas iniciais). Igor Denisov mostrou o quão bom volante é e foi perfeito nos dois primeiros jogos. Mais à frente Roman Shirokov deixou evidente que é fundamental para esta seleção e foi incansável. Konstantin Zyryanov, que eu contestei pelas irregulares atuações no Zenit, por vezes apareceu no centro da linha de 3 meias e "apagou" as atuações inconsistentes em seu clube. Andrey Arshavin manteve o nível do futebol que apresentou nos play-offs da RPL e isso foi um alívio. "Sasha" Kerzhakov perdeu muitos gols, mas garantiu sua titularidade pelo entrosamento com boa parte do meio-campo e por sua maior capacidade associativa.

Até aí tudo bem. Uma vitória e um empate colocaram a seleção de Advocaat em uma situação até confortável no grupo, mesmo com uma possível -e provável- vitória da República Tcheca sobre a anfitriã Polônia. Bastava aos russos um empate para se classificarem. Mas era melhor vencer e ficar na primeira colocação. O problema é que nenhuma das opções foi possível.

A Rússia repetiu a escalação dos outros confrontos, exceto pela ausência de Zyryanov. Seu substituto foi Glushakov. Confesso que não me surpreendi com isso. O jogador do Lokomotiv Moscow fez uma bela temporada e merecia uma chance. Ademais, Semshov não foi tão bem nos play-offs pelo Dynamo Moscow.

Nos primeiros 45 minutos a Grécia até levou certo perigo, principalmente pelos flancos com Samaras (sobre o pouco inspirado Anyukov) e Salpingidis (sobre o ultraofensivo Zhirkov). Mas era inegável a superioridade russa. Glushakov, como em seu time, se adiantou junto a Arshavin e Dzagoev, obrigando Shirokov a ficar mais na marcação. Inicialmente isso não foi um problema.

Pese ao domínio russo, quem saiu na frente foram os comandados de Fernando Santos. No último minuto da etapa inicial, após uma ridícula falha da lentíssima defesa, o mito Karagounis recebeu cobrança de lateral, entrou na área e tocou no canto de Malafeev. Mais uma vez a Grécia demonstrou que ao menos no futebol nunca está morta.

Mesmo com este resultado adverso, eu esperava um desempenho melhor da Rússia no segundo tempo. Acreditava que os primeiros 45 minutos sonolentos seriam apagados pelo susto enorme que os jogadores passaram. Estava enganado. Advocaat fez a mesma troca na terceira partida consecutiva: Roman Pavlyuchenko por Kerzhakov.

Basicamente não adiantou nada, já que a Grécia se retrancou ainda mais do que o normal e o meio-campo russo não estava inspirado.Glushakov, que apareceu em pontuais lances no primeiro tempo, sumiu completamente no segundo e pediu para ser substituído. Arshavin mal tocou na bola. Shirokov mesma coisa. A principal arma russa foi Yuri Zhirkov, que apoiou mais do que o normal pelo flanco esquerdo. Ajudou, mas não resolveu sozinho.

Para piorar as coisas, o técnico colocou Pogrebnyak no lugar de Glushakov, como se fosse suficiente encher a área grega de atacantes. O problema estava no meio-campo. Sem o garoto Kokorin (que se lesionou treinando no meio de semana) o melhor seria colocar Izmailov em campo, centralizando Dzagoev. Mas não foi o que aconteceu. Marat só veio nos minutos finais.

Em linhas gerais, a atuação da Rússia foi absurdamente ridícula e nem o empate era merecido. Mas como eu disse no título, agora todos irão procurar um "bode expiatório". E qual seria este? Dick Advocaat. O treinador holandês foi criticado demais desde que anunciou sua ida para o PSV após a Euro 2012. Motivo pífio, mas foi o que aconteceu.

Ao ver um jornal russo as primeiras matérias que li foram críticas a Advocaat. Uma foi de Izmailov dizendo  a seguinte frase: "ele nunca me agradou como pessoa ou profissional". Sem comentários. A outra foi do especialista Alexey Bubnov. Ele criticou o holandês justamente pela escolha de Glushakov, porque não havia jogado na competição. Sua sugestão foi armar a seleção em um 4-4-2. Dá para acreditar? Há muito que a Rússia joga em um 4-2-3-1 (variando para 4-1-4-1 e até um 4-3-3) e como ele não encontrou um motivo realmente decente, decidiu soltar esta "pérola".

O que mais incomoda é que vão "descer a lenha" em Advocaat e se esquecer do fraco desempenho dos jogadores, principalmente pelas duas primeiras partidas. Sinceramente os únicos que não merecem quaisquer críticas são Vyacheslav Malafeev e Igor Denisov.Os outros tiveram seus altos e baixos.

O presidente da RFU, Sergey Fursenko, disse que irá nomear um novo treinador em julho. Nomes? Por enquanto não, ainda que o mais provável é que ele seja russo. "Prata da casa" ou não, vai sofrer muito. Precisará aguentar dois presidentes chatos (falo de Furseko e de Putin!) e o mais importante, terá a obrigação de fazer render uma seleção que acabou de decepcionar demais. Além de tudo, graças a sua torcida, a Rússia começará a etapa de classificação para a Euro 2016 com -6 pontos.

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