quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O segredo do Shakhtar




O início da "Era Lucescu"

O Shakhtar Donetsk é o atual bicampeão ucraniano e chega forte em busca do tri nesta temporada. Mas quem vê este time brilhando muito de 2008 para cá não sabe que todo este processo começou há mais de sete anos atrás.

No fim da temporada 2002-2003, o treinador Valeriy Yaremchenko acabou encerrando sua terceira passagem pelos "mineiros". Sua maior glória veio quase no fim, o primeiro título da Ukranian Premier League da história do clube, em 2001-2002. Além disso, ele conquistou também 4 Copas da Ucrânia.

Mas para Rinat Akhmetov -eleito presidente em 1996- só isso não bastava. Ele queria mais títulos. Para tal feito contratou o romeno Mircea Lucescu para treinador. O objetivo estava mais do que claro, fazer o Shakhtar ser uma verdadeira potência no futebol ucraniano, não importando o tempo que demorasse para isso acontecer.

O que mais impressiona é que, já em 2004-2005 o time da cidade de Donetsk conseguiu seu segundo título ucraniano e Akhmetov percebeu que havia acertado em sua "aposta". Lucescu então passou a ser um verdadeiro manager neste time e controlar também as contratações e as divisões de base.

O romeno escolheu "a dedo" seus jogadores, olhando com muito mais atenção para o mercado brasileiro -atualmente 8 "brazucas" atuam na equipe. Sua sintonia com as ideias do presidente eram cada vez mais evidentes e o estilo de jogo do Shakhtar já começou a chamar a atenção: o toque de bola refinado.

O reconhecimento internacional

Não é nada comum ver um time do leste europeu tendo como filosofia o "toca y me voy", mas é exatamente por isso que Lucescu fez uma revolução tão grande nos "mineiros", tornando-os competitivos também no cenário internacional. O ápice veio na temporada 2008-2009, quando o Shakhtar Donetsk conquistou a última edição da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) batendo o Werder Bremen por 2x1 na final, com gols dos brasileiros Luiz Adriano e Jadson.

Como se não bastassem as glórias dentro de campo, fora dele também ocorreram ótima mudanças para o time. No ano de 2009 foi inaugurada a Donbass Arena, um estádio com capacidade para 51 504 pessoas. Foi exatamente neste estádio que os "mineiros" mantiveram uma invencibilidade de mais de 2 anos, perdendo-a na temporada passada para o Obolon Kyiv. Esta derrota antecedeu outra, que foi o 1x0 para o Barça, no mesmo estádio, na partida de volta das oitavas-de-final da Champions League.

Mas se serve de consolo para a torcida, o time de Mircea Lucescu -que ganhou o título de cidadão honorário de Donetsk- conquistou seu sexto título nacional e o quinto sob as mãos do treinador romeno. Este, recusou até um convite para dirigir a seleção ucraniana, pois não queria enfrentar seu filho Razvan, que até então treinava a Romênia.

O 4-2-3-1

Lucescu sempre foi conhecido por ser um "mestre das táticas", mas apesar disso demorou um pouco para encontrar o esquema ideal para o Shakhtar. O 4-2-3-1 foi introduzido justamente quando o time venceu a final da Copa da UEFA e perdura até hoje. Com ele, pode ser explorada não só a técnica dos jogadores, mas também a velocidade -outra característica marcante dos "mineiros".

Todo bom time começa por um bom goleiro, isso é fato. O que está intrigando a todos é que, até a temporada passada o titular na posição era Andriy Pyatov, um goleiro experiente e muito seguro. Já em 2011-2012 quem vem agarrando Oleksandr Ryba (em russo Rubka, com "u"). Ambos parecem ser goleiros seguros -para os padrões do leste- mas ainda não há explicação para a derrocada de Pyatov.

Na lateral-direita joga alguém que chegou antes mesmo de Lucescu, o capitão Darjo Srna. O croata de 29 anos chegou ao time em 2003 e participou do período vitorioso de sua história. O que impressiona é que com o passar do tempo ele vai melhorando ainda mais. Sem dúvida o camisa "33" já esta no "Hall da fama" dos mineiros.

No centro da zaga o titular incontestável é o "prata da casa" Yaroslav Rakistkiy que, apesar de ter apenas 22 anos, é um zagueiro de estupenda qualidade. Ele não tem apenas um altíssimo poder de marcação, como também toca a bola com exímia precisão.

Ao lado de Rakistskiy quem jogou com mais frequência na temporada passada foi Dmytro Chygrynskiy, ex-Barcelona, que tomou a titularidade logo que chegou. O zagueiro de 24 anos se mostrou bastante seguro e entrosou rapidamente com seus companheiros. Seu concorrente é Oleksandr Kucher, constantemente convocado para a seleção ucraniana, e antigo titular na posição. A verdade é que sua irregularidade o atrapalhou, mas com a lesão de Chygrynskiy ele recebeu outra oportunidade e parece que está aproveitando-a.

Para fechar com o sistema defensivo temos o veterano -de 32 anos- Vya Sevchuk jogando na lateral-esquerda. Ele não apoia com tanta qualidade assim, mas é um ótimo marcador. Por isso, quando Srna sobe com mais liberdade pela direita, o time passa a ter 3 zagueiros. Seu reserva imediato vem sendo Oleksiy Gai. Este, é originalmente um left winger mas está sendo útil na lateral-esquerda.

No meio-campo o jogador com mais poder de marcação é o volante tcheco Tomàs Hübschman. Ele tem se destacado demais nas últimas temporadas e se mostrou bastante seguro. Tanto, que inspirou a confiança de Lucescu em deixar apenas um homem de marcação na faixa central.

A partir daqui é que começa o "segredo" do Shakhtar: a versatilidade. Atualmente quem está jogando ao lado de Hübschman é o brasileiro Fernandinho, que não é um "volantão", mas marca muito bem. Seu papel é imprescindível neste time, pois ele conduz a bola até o campo de ataque e faz com que o esquema mude para o 4-1-4-1, de acordo com seu posicionamento.

Ainda aproveitando esta "versatilidade" temos Jádson, Douglas Costa e Willian. A verdade é que os três podem jogar em qualquer posição do meio-campo naturalmente, sem improvisação. Mas geralmente, Jádson joga aberto pelo flanco direito, Willian pelo esquerdo e Douglas Costa mais centralizado. Muitos cobram tanto Douglas Costa quanto Willian na seleção, mesmo para fazer a função de Ganso, mas a verdade é que nenhum deles é "enganche". Os dois são jogadores que conduzem a bola, apesar de terem qualidade no passe.

Mas não são apenas os titulares que têm tamanha qualidade. Os reservas também seguem o padrão. Alex Teixeira e o recém-chegado, Alan Patrick, sempre que entram fazem bem seu papel, seja qual for a posição para qual sejam designados. Com tantos brasileiros no time o ex-santista Alan Patrick se entrosou rapidamente, mesmo no clima frio da Ucrânia.

Até a temporada passada haviam apenas dois "concorrentes" para a única vaga de atacante titular: Luiz Adriano e Eduardo da Silva. O primeiro, que já era titular, não perdeu a vaga para o brasileiro naturalizado croata já que, apesar de não ser brilhante, sempre foi muito esforçado.

Para 2011-2012 este número duplicou com a chegada de Dentinho e Seleznev. O primeiro foi contratado junto ao Corinthians e assim como Alan Patrick, não encontrou dificuldades na adaptação, tanto que marcou logo na sua estreia oficial -na vitória por 4x0 sobre o Obolon Kyiv. Já Yevgen Seleznov (em russo Seleznev, com "e") veio do Dnipro Dnipropetrovsk, onde foi artilheiro da última Ukranian Premier League com 17 gols. Mas nenhum dos dois conseguiu "tomar" a posição que ainda pertence a Luiz Adriano.

Com este exemplo perfeito de bons investimentos e trabalho à longo prazo, o Shakhtar seguramente brigará durante muito tempo não apenas por títulos nacionais, mas também continentais, assim como vem fazendo nestes últimos anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário